Por: Dr. Robert K. McNamara, Professor of Psychiatry and Neuroscience, Department of Psychiatry and Behavioral Neuroscience, University of Cincinnati College of Medicine
Doenças mentais sérias incluem transtornos do humor, transtorno depressivo maior (TDM) e transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, transtornos psicóticos, incluindo a esquizofrenia, e o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Nos Estados Unidos (EUA), o TDM tem uma taxa de prevalência durante toda a vida de 16,6%; os transtornos bipolares, de 2,5%; os transtornos de ansiedade, de 31,6%; os transtornos psicóticos, de 1% e o TDAH, de 10,2%1,2. Há grandes variações entre os países no que se refere às taxas de prevalência dos transtornos de saúde mental, especialmente o TDM, distúrbios bipolares e o TDAH, com taxas mais elevadas observadas em países desenvolvidos, incluindo os EUA. Fato importante é que a instalação de transtornos de saúde mental ocorre frequentemente durante a adolescência, e o TDAH é normalmente diagnosticado em crianças antes dos sete anos de idade. Também há evidências de que a idade de instalação do transtorno bipolar está caindo, e evidências de que a prevalência do TDAH está subindo2. Entre os jovens residentes nos EUA, o TDM tem uma taxa de prevalência por toda a vida de 10%; os transtornos bipolares, de 3%; os transtornos de ansiedade, de 32% e o TDAH, de 10,2%1,2. Assim, os períodos da infância e da adolescência estão associados a taxas mais elevadas de transtornos de saúde mental, o que pode refletir maior vulnerabilidade durante este período crucial de maturação. Deve-se notar que os transtornos de saúde mental nos jovens aumentam o risco de suicídio, a terceira maior causa de morte entre adolescentes dos EUA. Assim, os transtornos de saúde mental entre os jovens representam um problema de saúde pública crucial e urgente.
É comum os transtornos de saúde mental serem tratados inicialmente com terapia cognitivo-comportamental e medicamentos farmacológicos, incluindo antidepressivos, estabilizadores do humor e/ou antipsicóticos de segunda geração. Contudo, os sintomas de transtornos de saúde mental comumente retornam após a descontinuação dos medicamentos, e os pacientes normalmente precisam de tratamento a longo prazo. Tratamento a longo prazo com alguns medicamentos pode causar efeitos colaterais cardiometabólicos adversos, assim como outros efeitos adversos significativos, que levam à descontinuação e à recidiva. Por exemplo: antipsicóticos de segunda geração estão, em geral, associados a significativo ganho de peso nos jovens. Ademais, o tratamento farmacológico de primeira linha para transtornos de depressão e ansiedade nos jovens são inibidores seletivos da receptação da serotonina, ainda que somente 30-40% dos pacientes adolescentes respondam plenamente a este tratamento. Essas e outras limitações associadas a esses medicamentos destacam uma necessidade urgente de desenvolver intervenções mais seguras e mais bem toleradas para jovens com transtornos de saúde mental.
A noção de “prevenção” é relativamente nova no campo da saúde mental. A despeito do crescente interesse em métodos de detecção precoce, não existem atualmente tratamentos estabelecidos. Tais intervenções “prodrômicas” exigirão primeiro uma melhor compreensão dos fatores de risco modificáveis associados aos transtornos de saúde mental, e precisarão ser seguras e bem toleradas no tratamento de longo prazo. Evidências emergentes sugerem que modificações da dieta podem representar um método viável de reduzir os fatores de risco associados, ainda que pesquisas adicionais sejam necessárias para avaliar e refinar esta estratégia.
Acredita-se que transtornos de saúde mental sejam causados tanto por fatores genéticos quando ambientais. De maneira correspondente, alguns fatores de risco podem ser evitados (p. ex., o abuso de drogas), enquanto outros não podem (p. ex., um histórico familiar de transtornos psiquiátricos). Evidências emergentes sugerem que a dieta tem impacto significativo sobre o risco de desenvolvimento de transtornos de saúde mental. Por exemplo: descobriu-se que uma dieta mediterrânea3 e/ou uma dieta contendo peixe4 protege contra o desenvolvimento de TDM. Isso também é apoiado por evidências de que diferentes transtornos de saúde mental, incluindo TDM5, transtorno bipolar6, esquizofrenia7 e TDAH8 estão todos associados a baixos níveis de ácidos graxos ômega-3 de cadeia longa, dos quais os peixes têm elevado teor. Em contraste, a dieta ocidental típica, que é rica em gorduras saturadas, ácidos graxos ômega-6, açúcar processado, etc., pode aumentar a vulnerabilidade. Também há evidências emergentes de uma associação entre os transtornos de saúde mental e deficiência de vitaminas D e B, zinco, ferro, magnésio e manganês. Estudos da alimentação de animais ofereceram uma melhor compreensão de como deficiências alimentares podem afetar negativamente o desenvolvimento do cérebro, e exames neurológicos com imagens estão começando a identificar o papel de nutrientes específicos na estrutura e no funcionamento do cérebro humano. As evidências existentes, portanto, sugerem que uma dieta que inclua os minerais e vitaminas essenciais e ácidos graxos específicos, como as gorduras ômega-3, é necessária para promover o desenvolvimento ideal do cérebro.
Depois da instalação de um transtorno de saúde mental, as alterações cerebrais patológicas subjacentes ficam mais difíceis de corrigir. Isso sugere que as intervenções nutricionais iniciadas antes da instalação dos sintomas podem apresentar o maior benefício terapêutico. Apesar disso, metanálises de diversos estudos controlados por placebo sugerem que indivíduos com transtornos de saúde mental estabelecidos, tais como TDAH, TDM, transtornos de ansiedade e psicose em fase inicial também se beneficiam da otimização da qualidade nutricional da sua dieta diária. Por exemplo: aumentar a ingestão de gorduras ômega-3 com suplementação9,10,11.
Não se sabe atualmente como as gorduras ômega-3 reduzem os sintomas de depressão e ansiedade, mas diversos mecanismos plausíveis receberam apoio experimental. Eles incluem redução da inflamação cerebral, redução das respostas hormonais ao estresse, aumento dos fatores de crescimento nervosos e conectividade sináptica e promoção da circulação no cérebro9. Também há evidências de que as gorduras ômega-3 reduzem os processos neurodegenerativos e aumentam a resiliência às neurotoxinas. É digno de nota que estudos com animais mostraram que a deficiência de ácidos graxos ômega 3 durante o desenvolvimento produz prejuízo de longa duração em diferentes sistemas neurotransmissores, incluindo serotonina e dopamina, que se acredita terem um papel central na depressão e na ansiedade. Estes e outros achados sugerem que os ácidos graxos ômega-3 de cadeia longa podem ter um papel na redução dos fatores de risco associados à depressão e ansiedade por diversos mecanismos diferentes e complementares.
Infelizmente, a dieta e a nutrição permanecem aspectos em grande parte negligenciados das práticas de saúde mental. Isso não é exclusivo da saúde mental. Praticantes de muitos outros campos da medicina, incluindo aqueles mais intimamente associados a doenças vinculadas à dieta, como as doenças cardiovasculares, raramente indagam seus pacientes sobre a dieta e a nutrição.12 Isso foi atribuído, em parte, à muito limitada educação nutricional oferecida aos médicos assim como a uma falta de tempo e reembolso para o aconselhamento nutricional. Apesar disso, evidências suficientes foram acumuladas nas últimas três décadas em apoio a um papel mais central da nutrição no tratamento de transtornos da saúde mental.13 Ainda que nenhuma intervenção nutricional esteja aprovada atualmente pela FDA para o tratamento de qualquer transtorno de saúde mental, a Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association) emitiu uma declaração de consenso quanto ao tratamento de pacientes com TDM com 1 g/d de EPA+DHA.14 Esse marco, em conjunto com a disponibilidade de formulações de ácidos graxos ômega-3 aprovadas pela FDA, pode oferecer um fundamento inicial para apoiar, diagnosticar e tratar deficiências nutricionais em pacientes com transtornos de saúde mental.
Existem agora abundantes evidências em termos de imagens neurológicas de que os transtornos de humor, ansiedade e psicóticos estão associados a anormalidades da estrutura e da função cerebrais. Essas anormalidades incluem redução da massa cinzenta, especialmente nas regiões onde são mediadas as emoções e os processos cognitivos, assim como reduções amplas da integridade da mielina. Essas anormalidades são acompanhadas de alterações na conectividade entre as regiões cerebrais, o que resulta em desregulação dos padrões de ativação. Por exemplo: transtornos de humor e de ansiedade estão associados a maior ativação da amígdala em resposta a imagens emocionais, e os transtornos de humor e psicóticos, além do TDAH, estão associados à redução da ativação do córtex pré-frontal. É relevante, portanto, que a instalação desses transtornos de saúde mental frequentemente ocorra durante a adolescência e início da vida adulta, um período associado a alterações maturacionais progressivas do cérebro nas conexões entre o córtex pré-frontal e a amígdala. Não está claro atualmente se os transtornos de saúde mental se devem a anormalidades na maturação cerebral e/ou neurodegeneração, mas foi demonstrado que nutrientes como gorduras ômega-3 promovem a maturação cerebral, reduzem a neurodegeneração e parecem ser um componente-chave da manutenção da saúde mental.
10 outubro 2018
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Ácidos graxos ômega-3 foram associados a diversos benefícios para a saúde. Descubra mais.
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