As estações do ano nos preços

As estações do ano nos preços

18/04/2019 | Autora: Mariane Crespolini - Mestre e doutoranda em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, pesquisadora e pecuarista  

A produção agropecuária é marcada pelas estações do ano. Aliás, todo o planejamento é atrelado aos fatores climáticos e sazonais, como temperatura, pluviometria e horas de sol. Conforme o período das águas vai chegando ao fim, começamos a adotar estratégias de manejo para a seca. Você sabia que é possível fazer o mesmo em relação aos preços e à comercialização dos animais?

Para começar esta análise vamos primeiro “apartar os lotes”. A bovinocultura de corte é uma atividade plurianual e com diversas etapas produtivas. Podemos então falar sobre as “estações do ano” da Cria e da Recria-Engorda, separadamente. E, também, sobre o comportamento plurianual, popularmente conhecido como ciclo pecuário. Vamos começar a análise pelas estações do ano do mercado pecuário.

Sazonalidade dos preços

O que determina o preço? O preço do bezerro ou do boi gordo é determinado por uma série de fatores: sexo, qualidade genética, tamanho do lote, manejo nutricional adotado, distância da propriedade de origem até o comprador final, e, até mesmo, pela concentração do mercado. A situação econômica do país, também influencia. Apesar de todos estes fatores, a época em que o animal é comercializado é uma das variáveis que mais afetam o comportamento dos preços ao longo do ano, sendo possível até identificar um padrão de variação nas cotações, tal como ocorre com os fatores climáticos.

Bezerro

O bezerro é a principal fonte de receita do criador e também o item que mais pesa nos custos de quem faz a recria-engorda. Como ilustrado na Figura 1, a “estação climática” de baixa dos preços ocorre entre setembro e fevereiro, sendo que a “menor temperatura” dos preços tende, historicamente, a ser registrada em janeiro.

Já a estação de alta dos preços ocorre de abril a julho, sendo que a máxima costuma ocorrer no mês de julho. Março e agosto são os meses de transação, onde os preços estão muito próximos ao que seria a média anual (base 100).  Ao longo do ano, a diferença entre os preços mais baixos e mais altos é de 5%, já descontada a inflação.

O setor está mudando e cada vez mais passamos a olhar para a qualidade e potencial genético. A comercialização, aos poucos, não é mais feita por animal, ou como nós pecuaristas dizemos, “na perna”, mas sim no quilo.

De acordo com os dados do Cepea, os animais mais pesados são comercializados na “estação das altas”, em junho e julho. Já os animais mais leves são vendidos entre dezembro e janeiro.

Então, quando analisado o preço médio por quilo de bezerro vivo, a estação das altas de preço é um pouco mais curta que na análise dos preços por animal, mas tende a ocorrer no mesmo período, como ilustra a Figura 1. Um ponto importante, é que na análise por quilo, a diferença entre preço mínimo e máximo ao longo do ano é apenas 2,6%, também já descontando o efeito da inflação.

A tomada de decisão

Analisar sazonalidade de preços é o mesmo que falar em estações do ano. Sabemos que em meados de setembro tem início o período das águas e que, em meados de abril, as chuvas tendem a reduzir. Não adianta torcer para chover mais em maio do que em março. A solução é que planejar e administrar nossa produção em função das tendências. É exatamente assim com os preços e também com o ciclo pecuário.

Há uma tendência e geralmente ela se mantém. Em alguns anos, existem fenômenos como o El Niño que afetam o clima, podendo inclusive resultar em quebra de safra. Isto também pode ocorrer com os preços. Foi o que ocorreu com a carne fraca e com a delação dos irmãos Batistas em 2017. Estes choques também podem vir com altas (ou quedas) inesperadas de demanda. Mas, são choques e não tendências.

Não conheço um empresário bem-sucedido que seja pessimista. Deste modo, o primeiro passo é ver os pontos positivos da atividade pecuária. Por isto, na tomada de decisão, eu gosto da ferramenta “RIA”. O “R”, vem de Razão. É o que busquei apresentar nesta análise. O “I” é Intuição. Por mais que a intuição seja algo menos racional, ela é capaz de captar influência e momentos mais recentes do mercado. Use muito sua intuição buscando perceber para onde está indo o “efeito manada” dos seus vizinhos.

De nada adianta o “RI” se não tiver o A: de Ação. Se analisarmos, observamos e mesmo assim não tomarmos uma decisão, de nada adianta. Por isso, um processo decisório tem que buscar aumentar a rentabilidade do negócio e garantir assim o sucesso da atividade. Ele tem que ser otimista: RIA!

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