01/03/2019 | Autor: Larissa Vieira com a colaboração de Divino Antonio Santana Lima - assistente técnico comercial
“Os bons candidatos emergem naturalmente”. É assim, fazendo uma analogia com a baleia, que só está pronta para navegar na liderança quando consegue transpor todas as espessas camadas de gelo rumo à superfície, que a Fundação Dom Cabral define esse momento tão crucial das empresas. No livro “A sucessão como ela é: de sentimentos a jogos políticos nas organizações”, lançado pela Dom Cabral, o autor Emerson de Almeida assegura que o novo líder não é escolhido nem eleito, mas revelado espontaneamente ao longo do processo. “Os executivos devem ser responsáveis por preparar seus sucessores por meio de um sistema de desafios ascendentes. Ou seja, a cada etapa, o substituto em potencial é desafiado a assumir novas responsabilidades, com o apoio do seu líder”, diz Almeida, que é cofundador da Dom Cabral.
Foi o que aconteceu na família Merola, mais especificamente na quarta geração à frente dos negócios. Filho único, Pedro Merola cresceu superando os desafios apresentados pelo pai, Ricardo de Castro Merola, considerado um dos maiores empreendedores do agronegócio brasileiro e pioneiro no uso de várias tecnologias. “Nasci em São Paulo, mas fui criado na fazenda. Meu pai sempre me incentivou a ter meu negócio. Quando tinha 10 anos, ele me orientou a usar o dinheiro que eu tinha na poupança para comprar boi, pois era um investimento muito mais lucrativo. Aos 12 anos, já trabalhava na fazenda no período das férias e recebia salário. Fiz todo tipo de serviço, desde os mais simples, como gradear a terra, levar peças até a supervisão no confinamento e negociar com clientes em outro estado. Isso me ajudou a conhecer melhor todo o processo de produção da fazenda e a aprimorá-lo”, conta Pedro, hoje à frente dos negócios. A Santa Fé foi adquirida em 1933 pelo seu bisavô, Misael Rodrigues de Castro. Em 1950, foi a vez do avô, Francisco Merola Neto, assumir a fazenda. No final da década de 1970, o bastão foi passado para seu pai, Ricardo Merola, que administrou a empresa até 2012.
A decisão de entregar a administração da Santa Fé ao filho Pedro não foi unilateral. A sucessão aconteceu no momento em que os dois se sentiram preparados para finalizar a transição. Eles já tinham trabalhado juntos anos antes, logo após Pedro se formar como engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), mas a experiência não teve êxito. “Eu era muito jovem e não tive maturidade suficiente para conduzir a situação. Decidi trabalhar em outra empresa em São Paulo, na Rio Bravo, mas, três anos depois, voltei para a Santa Fé, como CEO da operação”, lembra.
O desafio desta vez foi compatibilizar as visões antagônicas das duas gerações em relação ao ritmo de crescimento do negócio e aos eventuais riscos para isso. Por outro lado, eles tinham em comum o apreço pela inovação. Ricardo Merola é considerado pioneiro na adoção e no desenvolvimento de várias tecnologias dentro da agricultura e da pecuária. No final da década de 1970, em parceria com a Embrapa, adotou a irrigação de lavoura na Santa Fé, em uma época em que a técnica ainda era pouco utilizada no País. Poucos anos depois, já estava em busca de alternativas para acabar com os problemas de fungos nas áreas irrigadas.
Os experimentos conduzidos na fazenda em conjunto com pesquisadores da Embrapa deram origem ao famoso “Sistema Santa Fé”, tecnologia que permite o cultivo consorciado de culturas anuais – milho, sorgo, milheto, arroz de terras altas, com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, em áreas agrícolas. “Meu pai sempre foi muito inovador e nunca se contentou em fazer o básico na fazenda. Adotou de forma pioneira não só a irrigação, mas também o sistema rotacionado, o confinamento e a suplementação nas águas, dentre diversas outras tecnologias. Cresci dentro desse universo empreendedor. A inovação está no meu DNA”, assegura Pedro, que implantou no confinamento uma tecnologia inédita no mundo para pesagem em tempo real de todos os animais do lote, garantindo maior assertividade na identificação dos animais que devem continuar no processo de engorda e melhor desempenho financeiro para os parceiros.
Para os especialistas em sucessão, traçar o perfil futuro da organização favorece a definição do sucessor ideal. No caso da Santa Fé, a prioridade foi manter o perfil inovador, aliado a outras características próprias do sucessor. “Não se deve confundir sucessão com substituição. É um erro acreditar que o sucessor deverá ser parecido e assumir um ‘lugar’ que antes era ocupado por seu sucedido. As circunstâncias sempre serão outras, pois o ambiente está em constante mudança. Novas tecnologias, regulações e concorrentes exigem que a organização projete o seu futuro e reflita sobre sua identidade. A reflexão estratégica sobre a evolução da organização pode ser um exercício útil na escolha de sucessores”, diz o cofundador da Dom Cabral, Emerson de Almeida.
Outra dica para obter êxito na sucessão é fazê-la de forma planejada e dar início quando o líder ainda está no auge da carreira. Estudos comprovam que as sucessões abruptas estão associadas a uma queda de 18% no lucro operacional das organizações, no ano seguinte. Para Pedro Merola, o futuro da empresa vai muito além de garantir um sucessor que seja membro da família. “É preciso preparar a empresa para ser administrada dentro de um modelo que não dependa unicamente do sucessor. Na Santa Fé, temos um conselho de administração, ou seja, não tomo sozinho as decisões. Além disso, valorizamos os funcionários para que se sintam parte integrante do negócio e trabalhem sempre de forma correta para garantir o futuro da empresa”, diz.
Quando assumiu os negócios em 2012, ao comprar a parte do pai, Pedro desafiou a si mesmo e prometeu que, se não entregasse resultados positivos nos cinco anos seguintes, deixaria o cargo. “Acredito que a empresa tem de ser maior que seu gestor, ou seja, deve ser sólida para não ser afetada durante o processo de sucessão. Por outro lado, o sucessor não tem o direito de usar o capital da empresa apenas em benefício próprio. Ficaria feliz se, no futuro, a Santa Fé for lembrada pelo que ela representa para o mercado, e não por mim. Um gestor não deve ter vaidade, mas deve ser aquele que entende todo o processo de produção e está sempre buscando formas de inovar. É preciso amar o que faz, senão, nunca fará o que realmente é necessário para garantir o sucesso do empreendimento”, acredita Pedro, que coordena 500 funcionários em todos os negócios em que tem participação, sendo cerca de 150 na Santa Fé.
Como bem definiu Pedro Merola, para uma boa sucessão, como ocorreu na Santa Fé, é essencial que o sucessor conheça bem o negócio, domine os processos, trabalhe com um time qualificado e com os mesmos objetivos, e que tenha muito firmes os valores da organização para, juntos, buscarem o crescimento sustentável da mesma.
Pedro Merola, proprietário da Fazenda Santa Fé.
A Fazenda Santa Fé é um dos maiores confinamentos da América Latina em volume de bois terminados no modelo de engorda terceirizada. Com capacidade estática para 44.000 cabeças confinadas, deve encerrar o ano de 2018 terminando entre 80.000 e 100.000 bois em confinamento. A estrutura é enxuta e prática, com capacidade de armazenamento de 440 mil sacos de milho ou sorgo. Ali são produzidas cerca de 40 toneladas de ração/hora, distribuída por três caminhões no sistema Total Mix ao longo dos quase 12 km de cocho e em 244 currais de engorda. Podem ser alojados 180 animais por baia na época da seca e 90 animais nos meses chuvosos.
O Confinamento Santa Fé presta serviços de engorda dos bois. À medida que o gado dos parceiros, como eles chamam os clientes, vai chegando, passa por identificação e rastreamento, pesagem, aplicação de vacinas preventivas e de vermífugos. Com esses cuidados sanitários e de manejo, a taxa de mortalidade do Confinamento Santa Fé situa-se abaixo de 0,3%, um bom índice para um confinamento comercial que recebe animais de diferentes origens e condições de manejo, atestando a saúde e o bem-estar dos animais durante a fase de engorda.
Desde a entrada no confinamento até o 10º dia de cocho, os animais recebem uma dieta de adaptação para evitar distúrbios metabólicos e minimizar a taxa de refugo de cocho. Após o período de adaptação, são transferidos para os currais de engorda, onde recebem a dieta de terminação até o momento do abate. Desde o início, os animais recebem uma dieta balanceada específica para cada fase, composta por silagem de milho como principal fonte volumosa, sorgo moído, WDG ou DDG (coprodutos da produção de etanol de milho ou sorgo), caroço de algodão, melaço de soja, ureia e núcleo mineral.
Para garantir a qualidade da dieta ofertada aos animais, o confinamento também conta com uma equipe especializada de técnicos, como o professor da ESALQ/USP Dante P. Lana e o consultor Luiz Venturi, além da equipe da dsm-firmenich, que fornece todos os núcleos minerais e dá suporte a campo, monitorando e avaliando os procedimentos operacionais desde a fábrica de rações até o fornecimento da dieta para os animais.
A frequência de tratos diários varia de 6 a 8 vezes, sendo ajustado diariamente conforme leitura de cocho, evitando-se, assim, cochos vazios ou demasiadamente cheios, ofertando sempre um alimento fresco e em quantidade adequada. Além do monitoramento de cocho via leitura diária, a fazenda conta com um sistema automatizado de fornecimento com descarga programada e coleta simultânea da quantidade de alimento fornecido e individualizado por curral.
Resultados - O desempenho dos animais abatidos até agosto de 2018, separados por raça, mostra um ganho de peso individual médio variando de 1,745 no Nelore e de 2,176 kg/dia entre os produtos de cruzamento, e o ganho médio de carcaça de 1,152 kg/dia no Nelore e de 1,426 kg/dia no cruzamento.
Comercialização - A partir dos 45 dias de cocho, inicia-se o levantamento semanal e o apontamento dos animais que já apresentam acabamento mínimo desejável pelos frigoríficos. O confinamento informa semanalmente quantos bois estão aptos para o abate e as opções de vendas existentes, mas o parceiro tem a decisão total para escolher primeiro se deseja prosseguir com os abates dos animais apontados, quando e para qual frigorífico vender. Os parceiros do Confinamento Santa Fé registraram um custo médio de arroba produzida até agosto de 2018 abaixo de R$110,00.
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