Por: Editores de Talking Nutrition
Um estudo publicado recentemente traz novidades sobre a importância do uso do DHA durante a gravidez, destacando que doses maiores do que as encontradas em muitos suplementos vitamínicos pré-natais podem diminuir significativamente a taxa de nascimento prematuro.1 A pesquisa foi liderada por Susan E. Carlson, Ph.D., professora de Nutrição da AJ Rice e professora distinta da Universidade do Centro Médico da Universidade de Kansas no Departamento de Dietética e Nutrição. O objetivo principal do estudo, intitulado “Avaliação do DHA na redução do nascimento prematuro” (ADORE), foi avaliar o impacto do consumo diário de um suplemento pré-natal que fornece 1.000 mg de DHA comparado a um suplemento com 200 mg de DHA na taxa de PPE.
Um total de 1.100 mulheres grávidas foram inscritas e randomizadas para receber uma dose alta ou uma dose baixa de DHA. As mulheres que participaram do estudo estavam com 12 a 20 semanas de gestação quando a intervenção começou. As participantes receberam DHA de algas.
Além de avaliar o impacto da dosagem de DHA no PPE, o estudo também avaliou o nível do DHA materno com base no DHA dos fosfolipídios dos glóbulos vermelhos como resultado secundário. O estudo foi conduzido em três centros médicos acadêmicos nos Estados Unidos: Universidade do Kansas, Universidade Estadual de Ohio e Universidade de Cincinnati.
Mulheres que receberam a dose mais alta de DHA tiveram uma taxa significativamente reduzida de PP em comparação com mulheres que receberam a dose mais baixa de DHA. As taxas de nascimento prematuro foram de 1,7% e 2,9%, respectivamente, com uma probabilidade posterior de 0,91.
O estudo também encontrou uma associação entre o nível de DHA materno e a dosagem de DHA. “O trabalho descobriu que o nível basal de DHA de uma mulher, que está altamente relacionado à ingestão de DHA na dieta ou de um suplemento pré-natal, faz a diferença. Mulheres com baixo nível de DHA no início da pesquisa e que foram randomizadas para a alta dose de DHA tiveram metade da incidência de partos prematuros em comparação com aquelas com a dose mais baixa, 2% contra 4,1%”, explica a Dra. Carlson. A análise estatística desses dados resulta em uma probabilidade posterior de 0,93 de que a dose mais alta foi melhor para prevenir o PP. A conclusão de que existe uma relação significativa entre o nível de DHA materno e a dosagem de DHA também é o resultado de outro estudo recente sobre DHA durante a gravidez, chamado “ômega-3 Australiano para reduzir a incidência de parto prematuro” (ORIP).2,3
Além das descobertas da relação da dosagem de DHA com o PPE, os pesquisadores também avaliaram o impacto da dose mais alta de DHA no nascimento prematuro em geral. A Dra. Carlson explica: “O nascimento prematuro com menos de 37 semanas foi um resultado secundário. A dose mais elevada de DHA reduziu o nascimento prematuro, independentemente do estado inicial de DHA (pp = 0,95).”
O nascimento que ocorre antes de 34 semanas de gestação é definido como parto prematuro extremo (PPE). Nos Estados Unidos, PPEs representam 2,75% de todos os nascimentos4 e 20% dos nascimentos prematuros. Enquanto a maioria dos partos prematuros ocorrem entre 34 e 36,99 semanas de gestação, o PPE representa um problema médico e social significativo. Esses bebês apresentam os maiores riscos de mortalidade, exigindo cuidados médicos hospitalares caros e enfrentando desafios de desenvolvimento de longo prazo.6,7 Os cientistas, há muito tempo, procuram identificar intervenções que possam reduzir ou prevenir o nascimento prematuro extremo.
Em 2018, uma revisão Cochrane concluiu que o PPE poderia ser significativamente reduzido – quase pela metade – se as mulheres grávidas consumissem ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa ômega-3 (LCPUFAs), incluindo o DHA por meio de alimentos ou suplementos, em comparação com mulheres que não consumissem nenhum suplemento de ômega-3 LCPUFAs.8 No entanto, a revisão incluiu suplementação com ácido eicosapentaenóico (EPA), outro ômega-3 LCPUFA, e não identificou uma dose ideal ou tipo de ômega-3 LCPUFAs para consumo.8
Uma vez que muitos suplementos pré-natais já fornecem aproximadamente 200 mg/dia de DHA, a Dra. Carlson e seus colegas optaram por não utilizar um placebo ao planejar o estudo. Em vez disso, eles examinaram o efeito de uma dose alta em comparação com uma dose baixa de DHA,1 uma abordagem não adotada por outros estudos.
“Os ensaios ORIP e ADORE são os primeiros a estudar o PPE como desfecho primário e o ADORE é o primeiro estudo que comparou uma quantidade padrão de DHA em muitos suplementos pré-natais com uma dose mais alta”, afirma a Dra. Carlson. Além disso, ela explica que “a quantidade comumente adicionada às vitaminas pré-natais, 200 mg, não foi suficiente para prevenir o parto prematuro extremo”,8 confirmando a necessidade de explorar a dosagem de DHA em um ensaio clínico.
A Dra. Carlson apresenta sua opinião sobre a importância das descobertas do estudo. “Os dados são muito claros. As mulheres não estão recebendo DHA o suficiente. Precisamos educar os médicos sobre a importância do DHA durante a gravidez e fornecer para eles as ferramentas para reconhecer as mulheres que poderiam se beneficiar com uma dose maior do que o padrão.” Os autores do estudo encorajam os médicos a considerarem o teste de DHA em mulheres grávidas e recomendarem a suplementação de altas doses de DHA para aquelas com baixo nível desse ácido.1
“A mensagem mais importante para os médicos que cuidam de mulheres grávidas é que o DHA é importante para prevenir o parto prematuro, e esses profissionais devem encorajá-las a tomar um suplemento pré-natal que forneça quantidades adequadas do ácido.”
Dado o impacto significativo observado, esse trabalho pode ser extremamente relevante em áreas do mundo que não contam com tantos recursos médicos. Nessas regiões, o nascimento com menos de 37 semanas é uma das principais causas de mortalidade infantil.9 “O fato de que uma dose mais alta de DHA reduz o nascimento prematuro em geral indica que, em populações com altas taxas de nascimentos prematuros, doses mais altas de suplementação de DHA devem ser consideradas”, sugere a Dra. Carlson.
Embora a Dra. Carlson reconheça a importância dos aprendizados do estudo ADORE, ela também afirma que os resultados são um chamado à ação. “Estou apaixonada pela ideia de implementação das nossas descobertas”, diz ela. O experimento ADORE, em combinação com a recente revisão Cochrane8 e os resultados da análise do ensaio ORIP,2,3 sugerem que uma mudança é necessária tanto na política de saúde quanto na prática clínica. Os dados disponíveis devem levar as autoridades de saúde a definir uma ingestão recomendada de DHA durante a gravidez e podem orientar os médicos sobre a suplementação desse ácido, especialmente para mulheres que estão com um baixo nível dele no organismo.
A Dra. Carlson também está de olho no futuro, em outras áreas da nutrição materna em que a inovação é necessária. Ela gostaria de ver um estudo que visasse melhorar o nível de DHA das mulheres antes de ficarem grávidas ou no início da gravidez. A Dra. Carlson também está interessada em levar o conhecimento a respeito da nutrição pré-natal para mulheres grávidas, uma vez que a conscientização é a chave para a mudança de comportamento.
Além disso, ela está fascinada com a evidência de que o DHA e a colina agem sinergicamente durante o desenvolvimento, de modo que a soma de seus efeitos é maior do que a ação de cada nutriente isoladamente. Ela nos diz que “tanto a colina quanto o DHA são reconhecidos como nutrientes que precisam ser adicionados na dieta da maioria das mulheres americanas durante a gravidez. Embora alguns suplementos pré-natais adicionem colina, a quantidade é bastante baixa.”
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3 janeiro 2022
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