Reduzindo nossa dependência de recursos marinhos

Com a expectativa de que a população mundial chegue a 9,7 bilhões de pessoas em 2050 e a crescente demanda por alimentos mais nutrientes e saudáveis, estima-se que a aquicultura terá que crescer sua produção em 30 a 40 milhões de toneladas até 2030 para poder acompanhar as taxas atuais de consumo. Mas como uma indústria, cujas rações são tão dependentes de recursos marinhos, pode continuar a crescer de maneira sustentável?

Dr. David Nickell, Vice-presidente de Sustentabilidade dos segmentos Produtos Nutricionais, Nutrição e Saúde Animal da DSM, descreve a abordagem da empresa para atender à crescente demanda por proteínas nutritivas e acessíveis oriundas da aquicultura e, ao mesmo tempo, ajudar o setor a avançar dentro dos limites críticos dos recursos marinhos.

Dietas saudáveis provenientes de sistemas alimentares sustentáveis

A aquicultura representa uma importante fonte de proteína animal que, por sua vez, é um componente crucial para uma nutrição humana equilibrada. Há um consenso geral de que a produtividade da aquicultura deve aumentar para atender às demandas de uma população global crescente e cada vez mais próspera. Para tal, deve adotar novas práticas e tecnologias para abordar os importantes desafios de sustentabilidade enfrentados pelo setor, fato destacado pela recente publicação do relatório da EAT Lancet Commission sobre dietas saudáveis provenientes de sistemas alimentares sustentáveis. É fato consumado que, para que a aquicultura cresça, ela deve ser feita dentro dos limites ecológicos do planeta, considerando especialmente sua forte dependência de recursos marinhos e seu impacto na biodiversidade dos oceanos.

Um dos principais empecilhos ao crescimento da aquicultura é a dependência da indústria dos ingredientes de origem marinha utilizados nas rações, principalmente a farinha de peixe e o óleo de peixe – este, fundamental. Esse óleo contém os principais ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA, importantes não apenas para a saúde e o desenvolvimento dos peixes cultivados, mas também para o valor nutricional do produto final para consumo humano.

Óleo de peixe: um recurso natural finito

O óleo de peixe - especialmente os ômega-3 EPA e DHA - é um recurso natural finito derivado da captura de peixes selvagens e oleosos, como anchovas, espadilha e capelim. Anualmente, cerca de 16 milhões de toneladas de peixes oleosos - ou 17% da pesca mundial - são capturados e processados, transformados em 5 milhões de toneladas de farinha de peixe e 1 milhão de tonelada de óleo de peixe, do qual apenas 200 mil toneladas são compostas pelos importantes ácidos graxos EPA e DHA. Além disso, a disponibilidade desses dois ácidos graxos vem diminuindo a cada ano devido ao declínio da captura selvagem, às mudanças no leque de espécies de peixes capturadas e à redução simultânea da quantidade de óleo e ácidos graxos extraídos.

A indústria do salmão utiliza cerca de 40% dos EPA e DHA disponível no mundo, as outras indústrias de aquicultura 35% e a indústria de nutrição humana o restante. Devido à natureza finita desses ácidos graxos, a indústria do salmão teve que reduzir seu uso a fim de manter suprimentos suficientes para permitir que a indústria continue crescendo e acompanhando a forte demanda dos consumidores por salmão. No entanto, isso ocasionou uma redução de 50% nos níveis de ômega-3 EPA e DHA em filés de salmão, sejam eles oriundos da Noruega, Escócia, Chile ou Tasmânia. Essa redução no valor nutricional do salmão é uma preocupação fundamental para a cadeia de valor. Consumidores compram salmão por vários motivos, mas a principal razão é o conteúdo do saudável ômega-3 que ele fornece. Portanto, encontrar fontes alternativas desses preciosos recursos de ômega-3 é prioridade máxima para a aquicultura em geral e para a indústria do salmão em particular.

Veramaris®: uma fonte sustentável de EPA e DHA

Para que a indústria do salmão cresça de forma sustentável, reduza sua excessiva dependência de recursos marinhos e, ao mesmo tempo, reverta o declínio do valor nutricional do filé de salmão, a DSM e a Evonik criaram a Veramaris®: uma joint venture que desenvolveu uma tecnologia de ponta para produzir ômega-3 EPA e DHA através da fermentação de algas marinhas naturais em larga escala. A Veramaris® será capaz de produzir 15% da atual demanda de EPA e DHA da indústria global de salmão em um processo livre de resíduos. Esta inovação irá ajudar a aliviar a pressão sobre a pesca selvagem excessiva, permitir que a indústria do salmão se torne uma produtora efetiva de peixes, melhorar a biodiversidade marinha e possibilitar que o setor eleve os níveis de ômega-3 no filé de salmão de forma sustentável. Por exemplo, a quantidade de EPA e DHA presente em 1 tonelada de óleo de alga Veramaris® ômega-3 é equivalente a 60 toneladas de pesca selvagem. Mais ainda, a capacidade de fabricação da Veramaris® de ômega-3 EPA e DHA é equivalente a 1,2 milhão de toneladas de peixes capturados na natureza.

Validação da proposta de sustentabilidade

Para validar as credenciais de sustentabilidade dessa tecnologia inovadora, a Veramaris® trabalhou com importantes instituições de pesquisa internacionais para definir novos parâmetros de avaliação do ciclo de vida (ACV) relevantes para o meio ambiente marinho. Esses parâmetros examinam o impacto da substituição do EPA e DHA derivados do óleo de peixe pelo produzido pela Veramaris® e registram o efeito da produção primária de carbono fotossintético (PPR), a taxa de dependência da superfície do mar, a pressão da pesca excessiva e a relação de dependência de peixes forrageiros.

O PPR é um parâmetro que reflete a perturbação dos fluxos do ecossistema e é amplamente utilizado para quantificar os impactos bióticos em ACVs de alimentos de origem marinha, em particular em estudos de aquicultura, quando peixes são usados como ração em forma de farinhas e óleos.  Frequentemente usado como um parâmetro de utilização de recursos marinhos, a quantificação de PPR é atualmente o critério mais adotado para avaliar impactos de ecossistemas de peixes de viveiro. A indústria pesqueira mundial foi identificada como limitada pela produção primária disponível e pode atualmente apresentar níveis insustentáveis em termos de utilização da produção primária do ecossistema.

Do consumo efetivo à produção efetiva

Estudos sobre ACV indicam que 59 toneladas de carbono precisam ser convertidas através da fotossíntese e introduzidas na rede alimentar para que possam produzir 1 tonelada de salmão com base em uma dieta típica e comercial do peixe. No entanto, quando se substitui o óleo de peixe na dieta do salmão pelo óleo de algas Veramaris® (sem reduzir o componente de farinha de peixe da dieta), a necessidade de carbono fotossintético é reduzida em 45%. Da mesma forma, a área da superfície do mar necessária para a produção do carbono fotossintético é reduzida em 44%. E a quantidade de peixes forrageiros (por exemplo, anchovas, espadilha e capelim) capturada em níveis insustentáveis para produzir 1 tonelada de salmão é, neste exemplo, reduzida em 52%. O que é muito positivo, considerando-se que a pesca selvagem vem diminuindo desde seu pico global em meados dos anos 90 e que os níveis de estoques de pesca analisados pela FAO continuam a mostrar uma tendência de declínio geral.

O último parâmetro - taxa de dependência de peixes forrageiros - descreve a quantidade de peixes selvagens usada em rações em relação à quantidade de peixes cultivados. A indústria de salmão tem a ambição de sustentabilidade de se tornar uma produtora efetiva de peixe. Isso significa utilizar menos de 1 tonelada de recursos marinhos para produzir 1 tonelada de salmão. Para continuar com o exemplo acima: a substituição do óleo de peixe na dieta dos salmões (sem reduzir a inclusão de farinha de peixe) resulta uma diminuição de 83% na quantidade de captura selvagem necessária para produzir 1 tonelada de salmão. Isso significa que ao utilizar o óleo de algas Veramaris® omega-3, a indústria do salmão pode atingir sua meta de se tornar uma produtora efetiva de peixe: um marco essencial de sustentabilidade em uma importante indústria fornecedora de proteína de alta qualidade para consumidores cada vez mais exigentes.

Os novos parâmetros de ACV são totalmente validados por auditores terceirizados e documentam claramente o impacto positivo de sustentabilidade do óleo de algas EPA e DHA ômega-3 da Veramaris® na produção de salmão e no meio ambiente marinho.

Revertendo o declínio nos valores nutricionais

A Veramaris® não só permite o crescimento sustentável da aquicultura. Ela também garante que haja ômega-3 EPA e DHA suficiente para começar a reverter o declínio no valor nutricional de peixes, particularmente do salmão. Como a aquicultura vem assumindo uma parcela cada vez maior do mercado de proteínas devido a mudanças nas preferências dos consumidores, é fundamental que valores nutricionais sejam mantidos e que a indústria continue a empregar práticas ainda mais sustentáveis, especialmente em relação aos recursos marinhos.

Veramaris® e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

O desenvolvimento da Veramaris® contribui de forma mensurável para a realização de quatro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pelas Nações Unidas em 2015:

Aprender mais sobre Veramaris

Soluções para nutrição animal baseadas em ciência

A DSM existe para criar uma vida melhor para todos. Isso começa com nossos clientes, sem os quais não teríamos uma empresa. Oferecemos a eles as soluções para nutrição animal mais abrangentes do mundo, baseadas na ciência, dimensionadas de modo inteligente a fim de resolver os desafios comerciais e de sustentabilidade que enfrentamos para transformar a maneira como alimentamos o mundo.

O mundo precisa de novos caminhos para a proteína animal sustentável e a DSM está na vanguarda desta jornada.

Published on

07 March 2019

Tags

  • Sustainability
  • Aquaculture

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